PARANGOLÉ: ANÁLISE A PARTIR DA PERSPECTIVA DAS POÉTICAS DE OBRA ABERTA DE UMBERTO ECO.
Nildo da Mangueira com Parangolé, 1964.
Define-se
a poética Obra Aberta como uma
categoria não crítica e sim de valor hipotético. Seu discurso se apoia no
universo de relações da qual a obra de arte se origina, sua leitura é
interdisciplinar.
O
autor apresenta uma proposição onde, a lógica formal e a lógica dialética se
relacionam com intenção de formar um discurso que elucide o momento histórico que está se vivendo. Trata-se
de um modo diferenciado de se “ver” a obra de arte e se relacionar com esta, a
partir de uma nova organização, que rompe com a ordem tradicional imposta até
então.
Para Humberto Eco, uma obra de arte é formada
a partir de uma estrutura, formas
interdisciplinares que dialogam entre si. O objeto/obra, é fruto da mistura das diferentes vivências,
emoções, ideias, memórias, temas, materiais, leituras, etc, surge como obra no
momento em que é colocado à uma relação de fruição com o espectador.
Eco
identifica na poética da obra aberta, a não necessidade de se ater a um ou
outro discurso especificamente, o campo é aberto a colocações e interpretações
de toda a ordem, busca-se no valor da informação uma riqueza de significados
ilimitada, o que faz possível uma maior e mais abrangente leitura e compreensão
da obra de arte. A obra para esse autor é considerada como uma metáfora
epistemológica.
A
obra que se pretende analisar a partir da poética referida, são os Parangolés
do artista brasileiro Hélio
Oiticica, criada no final da década de 50.
O
parangolé é uma escultura/vestimenta,
feita para ser dotada de movimento. Confeccionada de tecidos de diferentes
cores, é possível vesti-la e ser tomado por um estranhamento devido a suas formas não convencionais. Provocador, permite
a descoberta de novas posturas e o
repensar de um novo gestual, livre dos padrões estabelecidos pela sociedade,
uma nova ordem de atitudes.
No
final da década de 50 e início dos anos 60, artistas no mundo pensam novas linguagens
e formas de representação. Atitudes diferentes inovam a forma de pintar, de esculpir
e do espectador observar a obra. Surgem performances, vídeo arte, e outras
maneiras de expressão da arte. A poética do informal se instaura, para trazer ao
artista e fruidor a forma na obra de
arte como um novo campo de possibilidades.
Helio
Oiticica assim como muitos artistas brasileiros da década de 60, dialogam com a
diferença. Uma de suas grandes contribuições foi ter pensado a pintura fora do
espaço bidimensional da tela, e tê-la levado para um espaço construído, o
espaço tridimensional. Além de realizar
as experiências, Helio escreve ensaios sobre as mesmas.
Com
o parangolé, dá-se uma nova vivência estética,
onde a simultaneidade de gestos e movimentos propostas pelo ator/espectador
promove uma infinidade de perspectivas e maneiras de ver e fruir tal
acontecimento artístico, esse, resulta ambíguo e visível sob diversos olhares,
e segundo as palavras de Umberto Eco, “o campo das escolhas não é mais
sugerido, é real, e a obra é um campo de possibilidades”. (Eco, 2010, p. 153)
Unir
corpos e movimentos parece ter sido a maneira que Oiticica encontrou de falar de cores e formas. Em
vários de seus trabalhos, explora a diversidade de forma interdisciplinar. Com
os parangolés mais especificamente,
busca uma nova configuração para as cores, por meio de movimento e gestual.
Nesse trabalho, fronteiras entre as diversas linguagens artísticas se misturam,
em uma só. O público, agora é obra e
interage ativamente. Com essa experiência, nota-se em Hélio a tentativa de
aproximação entre arte e vida, erudito e popular. O trabalho não se fecha à
significações estáticas.
Hélio
Oiticica (Oiticica, H.,
1986) com seus conhecidos parangolés, sobe muitas vezes o morro da Mangueira para compor com
corpos, desconfortáveis, “estruturas-cor no espaço e no tempo” (Oiticica, H., op. cit., p.51). Sua certeza era a de que, [...] “A pintura
teria que sair para o espaço”
(Oiticica, H., op. cit., p.27).
Sensibilizar
os sentidos por meio da experimentação, trabalhar novos suportes, experimentar
uma relação com o tempo e a espacialidade, integrar a arte às experiências
cotidianas de diferentes universos, é uma prática que Hélio traz como contribuição para se
pensar a arte, suas novas abordagens, e novas formas de experimentação estética.
O
artista leva a arte para a rua, desmitificando-a, tornando-a livre de
hierarquias, e é no espaço público e não dentro do museu que sua experiência se
torna viva. Trata-se de obra aberta, é teatro, música, ópera, circo, dança, performance,
artes visuais, diferentes expressões
artísticas. É efêmero como o tempo, nada em sua obra é
estático. Segundo Umberto Eco é o processo que preside a formação
da obra.
Hélio busca novas experimentações e uma
pesquisa de linguagem plástica revendo conceitos pré-estabelecidos nas
tradicionais convenções artísticas. Nega as definições estáticas
e engessadas do acabado, definido. O
parangolé não pertence a nenhuma das
categorias tradicionais das Belas Artes. Segundo a poética em
questão, Obra aberta, o parangolé, é da ordem do informal, é uma
nova categoria, aberto a novas percepções de campo dilatado e experiências
infinitas.
Bibliografia
ECO,
Umberto, Obra Aberta: forma e
indeterminação nas poéticas contemporâneas/ Umberto Eco – São Paulo;
Perspectiva, 2010.
Escritos
de artistas: anos 60/70/ seleção e comentáriosGlória Ferreira e
Cecília Cotrim – Rio de Janeiro; Zahar, 2006.
Oiticica, H. Aspiro ao Grande Labirinto. Rocco, Rio de Janeiro, 1986. http://www2.uol.com.br/antoniocicero/parangole.html
Tereza Riba é estudante de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.
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