Coletivo TrêsPe. Eles não sabem o que fazem, 2013
Ao observar a obra “eles não sabem o que fazem” que faz parte da
Exposição Instantes, do Coletivo TresPe (DF), me veio à tona uma série
de perguntas, dentre elas as principais foram: Qual a função da moldura? Qual o
lugar da moldura na obra de arte? Quem é o artista, quem sabe ou quem não sabe?
E a partir delas pode-se chegar a uma quantidade de hipóteses não conclusivas,
até por que não é este o objetivo.
A moldura na obra de arte é como a cerca do pasto, esse é uma das
primeiras de várias comparações a respeito da obra. Ela tem a função, nesta
comparativa, de delimitar o lugar do alimento, tanto o do capim quanto o do
gado. Então, sua função seria determinar o lugar; definir propriedade de algo
que alimenta a muitos, mas que pertence a um? Ela muito se parece com as linhas
do campo de futebol ou da gostosa brincadeira da amarelinha e tudo que
está externo às suas fronteiras é considerado fora do jogo; por isso, não é
arte o que está fora da moldura. E a própria moldura é arte ou mero divisor de
águas, uma linha que define o que está e o que não está no jogo, uma cerca que
deixa claro de quem é a posse?
Neste modo de repensar a moldura há necessidade de expandir o olhar e
perceber que o lugar onde são colocadas as molduras nas exposições e espaços
tradicionais não é obra do artista, apenas um suporte, um espaço pré-determinado
ou acordado. Sendo assim, o artista não tem autoria sobre o espaço? Assina
apenas o que está dentro das “fronteiras” do seu trabalho? Vê-se que a relação
que o espectador faz com a obra parte de um ponto confortável. A moldura das
pinturas é colocada tradicionalmente à altura dos olhos, gerando um conforto
que incomoda. Por outro lado, a interação do espectador, do andante, ou de
qualquer pessoa que tenha contato com a obra de arte pode começar a fazer
sentido quando este precisa sair deste centro confortável e olhar para cima,
para baixo, se esticar, se mexer de qualquer modo. O que faz com que a
interação se estabeleça com mais eficácia.
Outras perguntas se fazem presentes em contato com a obra, e elas tem
um vínculo direto com o título da obra: se eles não sabem, como o fazem? Já que
fazem sem saber, por que fazem? Essas e outras perguntas vão conduzindo o pensamento
para o operário que muitas vezes faz a obra e não tem nenhuma autoria sobre
ela, mostra o quanto é distante o entendimento do executante não-artista a
respeito da obra que ele mesmo faz. E este fato é muito comum em obras de
vários artistas que pensam e assinam uma peça, mas não a fazem com as próprias
mãos. Muitas vezes, quem faz não chega a
compreender a complexidade dos seus feitos e das consequências criadas a partir
dessa relação de interdependência entre artista e operário.
No Museu Nacional, na noite de onze de setembro, vi que houve algumas
interferências de pessoas na obra analisada. O mais interessante é que não
existiu um convite direto à interação, como ocorreu em outras intervenções
naquele espaço; mas alguns mais afetados pela obra sentiram necessidade de bater
alguns pregos na moldura, de farpar a cerca, de desenhar as linhas do campo deixando
ali sua contribuição para o jogo, confundindo ainda mais o sentido de autoria e
ajudando o operário com sua missão remunerada e sem fins subjetivos.
Contudo, pude concluir que “eles não sabem o que fazem” é uma
obra bastante intrigante por que me dirigiu ao questionamento. Apresentou nova
possibilidade para um objeto com lugar, finalidade e contexto aparentemente
definidos.
Ítalo Oliveira é ceilandense, estudante de teatro e empregado dos próprios desejos.