Textos:
Joseph Beuys: Conclamação à alternativa[1]
Rainer Rappmann: Universidade Livre Internacional (F.I.U.). Fundação, Conceito e
Resultado[2].
No artigo Conclamação
à alternativa, o artista Joseph Beuys lança aos europeus um apelo
fundamentalmente político, para que realizem um movimento renovador de
supressão dos muros entre Oriente e Ocidente e de mudanças profundas na vida
social e política, iniciando uma revolução não violenta, orientada para a
evolução humana aberta ao futuro.
A proposta do artista é consequente à aguda percepção de
grandes problemas que habitam as estruturas estabelecidas, como a ameaça
militar em sua corrida armamentista de imenso poder destruidor, a crise
ecológica, que ameaça extinguir toda a base natural da existência humana, a
crise econômica, que aniquila volumes gigantescos de alimentos acumulados por
uma superprodução subvencionada enquanto milhões de pessoas morrem de fome em
outras partes do mundo, a crise monetária, a crise da educação, a crise
energética, a crise da democracia. Diante de tantas crises, as pessoas
sentem-se reféns de circunstâncias devastadoras e perdem sua interioridade e o
próprio sentido da vida. Segundo BEUYS, a raiz de todos esses males está no
dinheiro e no Estado, que se tornaram contundentes instrumentos de poder. Ambos
são protagonistas principais dos modelos econômicos dominantes no Mundo. No
Capitalismo o conceito fundamental é o dinheiro e no Comunismo o fundamento é o
totalitarismo do Estado. Ambos levaram a humanidade a uma perigosa borda de
precipício.
Por isso BEUYS aponta um terceiro caminho que passa por uma
revolução de conceitos, com vistas à evolução sem coerção e sem arbitrariedade
(não violência). Novos conceitos de
trabalho e renda resultam no “Sistema Integral” no qual o trabalho de um
indivíduo é, por princípio, trabalho para o outro, não está atrelado ao seu
próprio consumo. A relação trabalho e renda muda radicalmente no “Sistema
Integral”. A renda que as pessoas necessitam para o seu sustento deixa de ser
um valor derivado do trabalho para ser um direito originário, humano, que
garanta as condições para a atuação responsável de cada indivíduo no organismo
social.
O
terceiro caminho tem como visão básica uma nova sociedade do socialismo real,
com economia e cultura auto gerenciadas, pós-capitalista e pós-comunista, cujo
governo e administração pública ficam limitados à função de decidir obrigações,
direitos e deveres válidos para todos.
O
principal instrumento da transformação sem violência proposta por BEUYS é a
participação do ser humano, como artista. A arte está ligada à vida e à
liberdade criativa do pensamento, onde exatamente começa qualquer processo de
transformação. O pensamento impulsiona a
vontade, a autodeterminação, que por sua vez leva à ação, e esta aos movimentos
compostos por iniciativas populares que se complementam e se aliam.
Para que os estudantes artistas pudessem
desenvolver sua capacidade criativa de forma ampla, autodeterminada e autônoma,
o autor funda a Universidade Livre Internacional (F.I.U.), como um instrumento
coadjuvante de transformação não violenta. Na F.I.U. BEUYS e seus colaboradores
passaram cem dias discutindo os problemas e os princípios do novo modelo de
sociedade em foco e o conceito de escultura social, a partir da ideia de arte
ampliada.
Tal
modelo parece utópico, à primeira reflexão. Mas, como RAPPMANN afirma, o ser
humano tem, historicamente, a capacidade de potencializar seu capital
intelectual ao trabalhar com a matéria e as forças da natureza para serem
aplicados aos campos da vida comunitária e sociedade. Pensando assim, é possível
considerar as ideias de BEUYS como uma saída para esse
embrulho em que se encontra a humanidade.
Edna Galisa de Souza: Estudante de Artes
Visuais da Faculdade Dulcina de Moraes.
Agosto/2012.
[1]
Joseph Beuys (1921-1986), artista alemão, considerado um dos mais influentes da
segunda metade do Século XX, que produziu em vários meios, com ampla abordagem
técnica, incluindo escultura, happening, performance, vídeo e instalação. Foi
também um dos principais fundadores
da F.I.U.
[2]
Rainer Rappman (1950), autor alemão, editor, publicitário, organizador e
fundador da F.I.U. Verlag.
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