domingo, 13 de maio de 2012

Gê Orthof: Vitrine Hill House por Karine Meinhard


"A obra nasce de apenas um toque na matéria. Quero que a matéria de que é feita minha obra
permaneça tal como é, o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro;
 um sopro interior, de plenitude cósmica. Fora disso não há obra.
Basta um toque, nada mais."
Helio Oiticica
    vista da instalação de Gê Orthof na vitrine da loja Hill House


Pouco sei sobre a vida e o trabalho desse artista conhecido como Gê Orthof, mas me atrai instantaneamente por sua produção exposta na Hill House. Primeiro a vitrine e depois suas caixas de vidro musicais. Esse tipo de arte (no caso da vitrine) é denominado INSTALAÇÃO¹. Particularmente, gosto da ideia dos objetos dispostos no espaço aleatoriamente, ou não. A proposta da construção e desconstrução. Da relação que se estabelece com o observador. Da interação sensitiva com o outro. Da perspectiva imposta pelo fato dos objetos estarem se comunicando de forma mais expansiva com o meio – e não apenas visualmente.

No caso de Gê Orthof, sinto nele uma ligação com o lúdico, a fantasia, o imaginário. Seus objetos são, em sua maioria, miniaturas. Coisinhas muito pequenas que nos fazem adentrar no espaço de infinitas possibilidades. Trouxe-me a reflexão de cada um com seu micro universo particular se relacionando com o macro coletivo. O pequeno no grande o grande no pequeno. A vitrine me despertou pela harmonia da composição, pela ideia de uma “vitrine poética”, uma “vitrine artística”, uma “vitrine que me leva além” – a arte se apropriando de espaços, aparentemente, triviais. Objetos diversos misturados e unidos em equilíbrio pelo tom das cores e sua disposição no espaço tempo. Dobraduras simplistas em formato de casas, ligadas por barbante cor de rosa, flutuavam no espaço dando a sensação de constelações estelares – estrelas que ao mesmo tempo são casas, casas que abrigam “lar doce lar”. E do alto, exatamente no centro da composição, desce uma linha que se espalha pelo chão como um fio terra, uma âncora, que aterra (quem sabe?!...) gerando uma explosão dinâmica e estática ao mesmo tempo. Logo a esquerda um pilar de luzes se eleva irradiando tons de rosa, violeta, amarelo – luminosidade! E a direita um pufe - um banco quadrangular - cor de rosa com uma concha de vidro descendo do reino dos céus!? Tudo muito curioso! Ao fundo uma extensa parede - em tom voltado para o cinza, para o terra – traz neutralidade. Inúmeros objetos que, a princípio, não tem muita relação entre si, se colocam dispostos formando uma narrativa, como um caminho que vai se formando, se abrindo, se fechando, como um plano de fundo, como uma paisagem distante no horizonte. E, para fechar, vemos em baixo, no chão, duas caixas de vidro com caixinhas musicais da sua produção sonhadores ressonantes. Acredito que essa vitrine tenha sido a conjunção de suas ideias, de pesquisas e trabalhos anteriores ocupando um único espaço. Resignificando a ordem das coisas.

¹ termo incorporado nas Artes Visuais na década de 1960

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