sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Observação da obra "eles não sabem o que fazem" do coletivo TrêsPe por Ítalo Oliveira


Coletivo TrêsPe. Eles não sabem o que fazem2013

Ao observar a obra “eles não sabem o que fazem” que faz parte da Exposição Instantes, do Coletivo TresPe (DF), me veio à tona uma série de perguntas, dentre elas as principais foram: Qual a função da moldura? Qual o lugar da moldura na obra de arte? Quem é o artista, quem sabe ou quem não sabe? E a partir delas pode-se chegar a uma quantidade de hipóteses não conclusivas, até por que não é este o objetivo.

A moldura na obra de arte é como a cerca do pasto, esse é uma das primeiras de várias comparações a respeito da obra. Ela tem a função, nesta comparativa, de delimitar o lugar do alimento, tanto o do capim quanto o do gado. Então, sua função seria determinar o lugar; definir propriedade de algo que alimenta a muitos, mas que pertence a um? Ela muito se parece com as linhas do campo de futebol ou da gostosa brincadeira da amarelinha e tudo que está externo às suas fronteiras é considerado fora do jogo; por isso, não é arte o que está fora da moldura. E a própria moldura é arte ou mero divisor de águas, uma linha que define o que está e o que não está no jogo, uma cerca que deixa claro de quem é a posse?

Neste modo de repensar a moldura há necessidade de expandir o olhar e perceber que o lugar onde são colocadas as molduras nas exposições e espaços tradicionais não é obra do artista, apenas um suporte, um espaço pré-determinado ou acordado. Sendo assim, o artista não tem autoria sobre o espaço? Assina apenas o que está dentro das “fronteiras” do seu trabalho? Vê-se que a relação que o espectador faz com a obra parte de um ponto confortável. A moldura das pinturas é colocada tradicionalmente à altura dos olhos, gerando um conforto que incomoda. Por outro lado, a interação do espectador, do andante, ou de qualquer pessoa que tenha contato com a obra de arte pode começar a fazer sentido quando este precisa sair deste centro confortável e olhar para cima, para baixo, se esticar, se mexer de qualquer modo. O que faz com que a interação se estabeleça com mais eficácia.

Outras perguntas se fazem presentes em contato com a obra, e elas tem um vínculo direto com o título da obra: se eles não sabem, como o fazem? Já que fazem sem saber, por que fazem? Essas e outras perguntas vão conduzindo o pensamento para o operário que muitas vezes faz a obra e não tem nenhuma autoria sobre ela, mostra o quanto é distante o entendimento do executante não-artista a respeito da obra que ele mesmo faz. E este fato é muito comum em obras de vários artistas que pensam e assinam uma peça, mas não a fazem com as próprias mãos.  Muitas vezes, quem faz não chega a compreender a complexidade dos seus feitos e das consequências criadas a partir dessa relação de interdependência entre artista e operário.

No Museu Nacional, na noite de onze de setembro, vi que houve algumas interferências de pessoas na obra analisada. O mais interessante é que não existiu um convite direto à interação, como ocorreu em outras intervenções naquele espaço; mas alguns mais afetados pela obra sentiram necessidade de bater alguns pregos na moldura, de farpar a cerca, de desenhar as linhas do campo deixando ali sua contribuição para o jogo, confundindo ainda mais o sentido de autoria e ajudando o operário com sua missão remunerada e sem fins subjetivos.

Contudo, pude concluir que “eles não sabem o que fazem” é uma obra bastante intrigante por que me dirigiu ao questionamento. Apresentou nova possibilidade para um objeto com lugar, finalidade e contexto aparentemente definidos.

Ítalo Oliveira é ceilandense, estudante de teatro e empregado dos próprios desejos.


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